Uso de resíduos como fonte de energia: a experiência europeia e a realidade brasileira

06/04/2016 - Uso de resíduos como fonte de energia: a experiência europeia e a realidade brasileira

Por Francisco Leme*

Um dos principais desafios da sociedade moderna é realizar a destinação ambientalmente correta e adequada para os resíduos que produzimos, uma tarefa que deve ser compartilhada pela indústria, sociedade civil e legislações federais, estaduais e municipais. Quando falamos do assunto, é impossível não exaltarmos a bem sucedida experiência europeia e, por consequência, traçarmos um paralelo com a realidade brasileira nas últimas décadas no que tange o uso de resíduos como fonte de energia.  E quando fazemos essa comparação, é possível identificarmos facilmente boas práticas que poderiam ser implementadas no Brasil. Medidas que solucionem a equação consumo de recursos naturais não renováveis X geração de resíduos.

Antes das comparações, falarei um pouco da nossa realidade. A InterCement, um dos mais importantes players globais desse ramo, realiza o coprocessamento - destinação final ambientalmente adequada de resíduos em fornos de cimento- não só como uma oportunidade de negócio, mas também com a sensibilidade de que trata-se de uma contribuição sócio ambiental importante. E, para tanto, adotamos as melhores tecnologias disponíveis com o intuito de aperfeiçoar nossos processos industriais.

Com unidades que já realizam o coprocessamento desde 2001, executaremos até 2024 um programa robusto que abrange mais de 90 projetos em nossas fábricas espalhadas pelo mundo, com investimento estimado em mais de 200 milhões de euros e com o objetivo de substituir pela metade a utilização de combustíveis fósseis por resíduos. Não é pouca coisa. Nenhuma cimenteira apresenta um plano tão ambicioso nesse sentido, o que nos coloca em posição de liderança e vanguarda nesse propósito.

Quando falamos de nossos números apenas no Brasil, mostramos o quão expressivo e atuantes temos sido. Ao longo dos últimos cinco anos, por exemplo, conseguimos evoluir de uma taxa de substituição de 10% em 2010 para 20% em 2015, atingindo o recorde diário de 52% de substituição térmica na unidade de Candiota, Rio Grande do Sul. A substituição térmica na indústria brasileira é de 10%, nós estamos acima dos 20% e até 2024 queremos alcançar o patamar de 45%.

Os méritos do coprocessamento já são exaltados internacionalmente há muito tempo, sendo evidentes os resultados apresentados em países como a Holanda, por exemplo, onde o nível de substituição de com­bustíveis fósseis supera hoje os 80%. Gostaríamos de ter números tão ou mais expressivos no Brasil o quanto antes e, para isso, precisamos da mobilização de diversos agentes da nossa sociedade.

Outro país com uma política extremamente eficaz nesse sentido é a Alemanha, que na última década conseguiu reduzir a emissão de 10 milhões de CO2 por ano através de eliminação de envio de resíduos urbanos para aterros.

Nos últimos 40 anos, países europeus já estão muito mais maduros no que tange eficiência no uso dos recursos, prevenção, consumo sustentável e economia circular. O relatório ‘Towards the Circular Economy’, divulgado durante o Fórum em Davos, em 2014, que revela os grandes benefícios potenciais da adoção de medidas para acelerar a transição para um modelo econômico circular, nos dá a exata medida do quão importante o assunto é tratado pela comunidade europeia.

Não entendemos o processo apenas vislumbrando o retorno financeiro que a atividade proporciona, algo natural e desejado para qualquer negócio, diga-se de passagem. E, para nos auxiliar nesse intuito, contamos com a parceria do Instituto InterCement – entidade responsável pela implemen­tação de estratégias de atuação social da companhia - como um aliado importante na aplicação das novas exigências decorrentes da Política Nacional de Resíduos Sólidos junto das comunidades onde atuamos. As práticas internacionais indicam que custo de aterros, por exemplo, é determinante no processo de promover a reciclagem e utilização de resíduos como fonte de energia. Aqui no Brasil, precisamos evoluir bastante nesse sentido.

Queremos estimular a capacitação e organização das comunidades para a reciclagem e captação de resíduos, favorecendo a criação de empregos e a destinação ambientalmente adequada de resíduos. Não temos dúvidas de que temos sido bem sucedidos nesse propósito. Esse ciclo é uma relação de ‘ganha/ganha’ entre todos os envolvidos.

Os benefícios do coprocessamento e do uso de resíduos como fonte de energia alternativa para a sociedade são muitos, principalmente quando a saúde pública mundial convive com a real ameaça da procriação sem precedentes de dengue/zika vírus pelo descarte incorreto de pneus, por exemplo. A indústria cimenteira oferece uma solução segura, rentável e ambientalmente correta. Aliar o retorno financeiro do coprocessamento com a contribuição social que a iniciativa proporciona não é, portanto, algo que dissociamos, é exatamente o que procuramos e queremos. Não temos dúvidas de que estamos no caminho certo, mas ainda temos muitos desafios para superar. E precisamos seguir os exemplos de países que já seguem o tripé “prevenir-recuperar-destinar”.

* Francisco Leme, diretor de coprocessamento da InterCement

MSLGroup Andreoli Comunicação

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