Os desafios da construção pensando no amanhã

16/04/2013 - Os desafios da construção pensando no amanhã
 
Por Angelo Just*
 
A indústria da construção civil, apesar do seu reconhecido conservadorismo, tem sido obrigada nos últimos anos a modernizar esses seus conceitos, em atendimento a uma revolução que atinge a sociedade em todos os níveis, notadamente no que se refere às questões de atenção no uso dos recursos físicos e naturais durante a execução de uma obra. Já era o tempo em que o noticiário informava que, para cada três prédios construídos, um deles era jogado fora como entulho. Num primeiro momento, a preocupação em reduzir os resíduos gerados tinha como foco principal a redução das despesas, já que quase a totalidade do material jogado fora podia ser considerada como perda. Gradativamente o corpo técnico das empresas construtoras vem tomando ciência do que significa o conceito de sustentabilidade, e dos três pilares que o norteiam, que envolvem não apenas os aspectos ambientais, mas também econômicos e socioculturais. A concepção de um edifício sustentável deixou de ser um objetivo platônico, quase bucólico, mas se tornou uma possibilidade real, concreta, cujos benefícios podem ser medidos no bolso, a partir do maior poder de venda alcançado.
Não se pode negar como a execução de uma obra pode ser agressiva ao meio em que se encontra, decorrente do uso indiscriminado de matérias primas obtidas sem critérios de controle, coleta e transporte, da energia necessária para o seu beneficiamento e uso, além dos transtornos causados à sociedade, desde o ruído proveniente do estaqueamento ou máquinas de corte na obra, até engarrafamento provocado pelos caminhões estacionados de forma não planejada para a descarga no meio das ruas e calçadas. Os indicadores informam que só a indústria cimenteira produziu no mundo o equivalente a 2 bilhões de toneladas de monóxido de carbono em 2012, com perspectiva de mais do que dobrar esse número num período de 30 anos.
O problema se instaura quando pensamos: se não há desenvolvimento sem infraestrutura, como se preparar para esse crescimento sem comprometer as necessidades das próximas gerações? Por outro lado, não é papel do construtor executar as suas obras sem que seja adequadamente remunerado, levando ainda em conta os riscos envolvidos na atividade.
Atualmente existem várias alternativas disponíveis para se executar uma edificação sustentável sob o ponto de vista ambiental, dentro das nossas características e regionalidades, iniciando por um planejamento voltado para essas ações. Nesse aspecto destacam-se o uso de materiais provenientes de jazidas conhecidas e controladas, o emprego de projetos de instalações prediais que privilegiem a redução no consumo de energia elétrica e a reutilização da água servida, a reciclagem e reaproveitamento dos materiais desperdiçados na obra, o que passa, inclusive, pela cultura da coleta seletiva de entulhos, entre outros. Todas essas ações são de fácil implantação nos canteiros de obras, e se ainda não chegam perto do que se observa em países mais desenvolvidos nessa área, ao menos representam os passos iniciais necessários.
Sob o aspecto sociocultural, o conceito de uma construção sustentável deve envolver o bem estar não apenas do futuro usuário daquele imóvel, mas também de todos envolvidos de forma direta ou indireta na execução da obra, e ainda daqueles que de alguma forma possam ter o seu dia a dia influenciado por aquela atividade. No primeiro caso, evidente, há muitos aspectos construtivos que podem melhorar o bem estar dos usuários, como exemplo o conforto termo acústico, que pode ser proporcionado a partir do emprego de materiais isolantes nas vedações verticais (paredes) e horizontais (tetos e pisos), e que resultam no incremento na sua qualidade de vida.
No caso dos operários envolvidos na obra, não se pode admitir a utilização das técnicas arcaicas de execução de alguns dos sistemas nas obras, nas quais os profissionais precisam desprender esforços manuais que, se não os esgotam fisicamente, reduzem de forma sensível a produtividade deles e, por consequência, a motivação em trabalhar. Nesse caso, pode-se citar o exemplo da execução de argamassa de revestimento em paredes, cuja técnica de aplicação manual com colher se utiliza desde os primórdios da construção, causando um esforço repetitivo inconcebível para o momento em que vivemos. Já dispomos de mecanização para transporte e projeção das argamassas na parede que reduzem os prazos necessários para a conclusão do serviço, com emprego reduzido de mão-de-obra direta. Por fim, existem ainda aqueles que nada têm a ver com a realização da obra, no entanto sofrem todo o dia com os transtornos causados por ela. Quem nunca reclamou daquela obra que está com o caminhão de descarga de material parado na faixa lateral da via para descarregar no horário de maior pico de trânsito local? Será que isso não poderia ser planejado para outro horário, para não atrapalhar a vida de todo mundo que precisa passar naquela rua para ir ou voltar do trabalho? Novamente essas questões estão ao alcance da grande maioria das obras em execução na nossa região, bastando apenas que o empreendimento seja concebido levando em conta esses aspectos.
Contudo, de nada adianta esses aspectos serem implementados se aquele empreendimento não for sustentável financeiramente. O grande desafio atual do mercado de construção na região, e o qual as empresas mais avançadas e envolvidas no processo já conseguiram superar, é o de encontrar esse equilíbrio entre o planejamento de obras que atendam aos aspectos ambientais da sustentabilidade, associados aos planos socioculturais e, evidentemente, ao retorno financeiro legítimo a qualquer atividade produtiva.
 
* Angelo Just é Gerente de Habitação da TECOMAT.

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